Conceitos básicos


Conceitos Básicos

 


 

Simulação Social Baseada em Agentes

 
A área da Simulação Social consolidou suas raízes durante os primórdios mesmo da Computação, quando modelos matemáticos aplicados às Ciências Sociais, especialmente à Economia, começaram a ser resolvidos numericamente por técnicas de Computação Científica. As chamadas técnicas de "micro-simulação" constitu\-em o principal resultado dessa
etapa inicial da área [1].
 
A área de Simulação Social Baseada em Agentes resultou diretamente da facilidade da aplicação da modelagem baseada em agentes à simulação de fenôme\-nos sociais e teve início exatamente no período em que a tecnologia de agentes se consolidava [2],[3],[4].
 
A simulação social baseada em agentes é muitas vezes apresentada como alternativa mutuamente excludente à simulação social baseada em modelos matemáticos, cada uma delas sendo vista como dando um tratamento diferente aos mesmos aspectos de um sistema social. Outras vezes, são apresentadas como alternativas complementares, cada uma tratando aspectos do sistema social que são independentes uns dos outros [5],[6].
 
Neste projeto, não compartilhamos de nenhum desses pontos de vista e adotamos a concepção de que essas abordagens estão intimamente relacionadas, a modelagem matemática desempenhando o papel de meio de especificação formal (possivelmente parcial) de modelos baseados em agentes [5],[6].
 

Instituições

 
Uma instituição, no sentido estrito do termo (cf., p.ex., [7]), é um conjunto estruturado de regras, símbolos e valores, que um sistema social desenvolve com o objetivo de canalizar os comportamentos individuais e coletivos dos membros do sistema social no sentido da preservação e desenvolvimento daquele sistema.
 
Uma instituição, assim, contempla tanto aspectos regulativos (regras, valores), quanto aspectos cognitivo-culturais
(sistemas de símbolos), para a estruturação do sistema social em que se situa [7].
 
É praxe, em relação a essa conceituação de instituição, distinguir entre instituições formais e instituições informais,
as primeiras tendo suas regras e valores codificados em documentos formais (leis, regimentos, contratos, regulamentos
diversos) e as segundo tendo suas regras e valores estabelecidos de modo informal (regras morais, acordos
interindividuais, etc.).
 
Pelo termo ``organização'' se entende, por outro lado, um particular tipo de instituição, qual seja, uma instituição
intencionalmente criada pelos membros da sociedade para a consecução de um conjunto de objetivos [7] (enquanto que no caso geral uma instituição pode ter sido originada por um processo histórico não intencional). Exemplos típicos de
organização, neste sentido, são as entidades governamentais, as empresas, as escolas, as associações de moradores de bairros, etc.
 
Portanto, ocorre em geral que organizações são instituições formais enquanto que instituições de origem não intencional tem caráter informal.
 

Sistemas Multiagentes Normativos e Sociedades de Agentes

 
Em nível internacional, dois tipos de trabalhos recentes se salientam, pela sua relevância para o presente projeto. Por um
lado, os trabalhos na área de Sistemas de Agentes Normativos (sistemas de agentes cujos comportamentos são condicionados por normas formais) tem focado a questão do condicionamento dos comportamentos dos agentes a normas formais impostas pelo contexto social em que atuam [8].
 
Por outro lado, na área de simulação institucional, trabalhos como o realizado no importante Projeto EMIL [9], tem focado as questões da emergência de regras comportamentais (emergência de normas) a partir de critérios de desempenho dos sistemas sociais em que essas normas emergem, enfocando principalmente normas relativas a interações sociais informais.
 
Em todo caso, pouca atenção tem sido dada, em geral, à questão dos valores sociais, sua gênese e sua articulação com as regras morais [10]. Em particular, pouca atenção tem sido dada à questão da modelagem e simulação de instituições informais.
 
Além disso, pouca atenção tem sido dada também para a questão importante das funções sociais que as instituições cumprem nos sistemas sociais (cf. [11] e [12]).
 
Neste Projeto, então, adotamos como contexto geral do trabalho um conceito mais amplo de sistemas multiagentes -- que
em [12] denominamos especificamente de ``sociedades de agentes'' -- cuja estrutura geral se constitui como um
"sistema de instituições" formais e informais, cada instituição caracterizada por uma estrutura funcional complexa
(agentes componentes, papéis sociais, sub-unidades organizacionais, normas, valores, funções sociais, etc.).
 
É nesse contexto conceitual mais geral que a noção de ``política pública'' encontra as condições adequadas para
viabilizar praticamente sua modelagem e simulação baseada em agentes [12].
 

Políticas Públicas

 
Uma política é um conjunto de princípios que orientam decisões e ações em algum domínio de ações, especialmente no que diz respeito às ações de utilização dos recursos disponíveis nesse domínio [13].
 
Os princípios determinados por uma política refletem os valores que a inspiram e resultam em procedimentos e normas de ações. Políticas, nesse sentido, se formam no contexto de instituições, assim como instituições manifestam-se através das políticas que inspiram.
 
Políticas públicas são conjuntos de princípios que orientam decisões e ações no domínio das ações de entidades
governamentais ou de organizações que tenham amplo impacto social, especialmente no que diz respeito à ações relativas à utilização de recursos públicos ou sociais [14].
 
Políticas públicas tem, como um caso particular, as chamadas `` políticas sociais'', isto é, políticas públicas cujo principal
objetivo seja influir sobre o funcionamento das relações sociais entre os indivíduos de uma sociedade [15].
 
Exemplos de políticas públicas que não são estritamente sociais são: a política exterior do país, a política administrativa do Estado, etc.
 
Na sua estrutura mínima, uma política pública é um plano de ações para um setor específico de atuação do Estado. É nesse sentido mínimo que o termo ``política pública'' é tomado, em primeira instância, no contexto deste projeto.
 
Com tal redução do coneito de política ao conceito de plano de ações pretende-se tornar mais praticável, no primeiro momento, a resolução dos problemas teóricos e metodológicos que se pretende enfrentar.
 

Referências:

 
[1] Gilbert, N., Trotzsch, K.: Simulation for the Social Scientist. Open University Press, London (2005).
 
[2] Epstein, J.M., Axtell, R.L.: Growing Artificial Societies: Social Science from the Bottom Up. MIT Press, Cambridge (1996).
 
[3] Gilbert, N., Conte, R.: Artificial Societies: The Computer Simulation of Social Life. Taylor & Francis, Oxford (1995),
 
[4] Gilbert, N., Doran, J.: Simulating societies: The computer Simulation of Social Phenomena. UCL Press, London (1994).
 
[5] da Rocha Costa, A.C., Jeannes, F.M.: Equation based models as formal specifications of agent-based models for social simulation: preliminary issues. In: BWSS 2008 - Brazilian Workshop on Social Simulation, Salvador, Sociedade Brasileira de Computação (2008).
 
[6] da Rocha Costa, A.C., Jeannes, F.M.: A critical study of the coherence between EBMs and ABMs in the simulation of the Hawks-Doves-Lawabiders society. In: 14th Portuguese Conference on Artificial Intelligence - EPIA'2009/Social Simulation and Modelling - SSM 2009, Aveiro, AAPIA/Universidade do Aveiro
(2009). p1-12.
 
[7] Scott, W.R.: Institutions and Organizations - Ideas and Interests. Sage Publications, Los Angeles (2008).
 
[8] Boella, G., van der Torre, L., Verhagen, H.: Introduction to normative multiagent systems. In Boella, G., van der Torre,
L., Verhagen, H., eds.: Normative Multi-agent Systems. Number 07122 in Dagstuhl Seminar Proc., IFBI (2007).
 
[9] Conte, R.: EMIL - emergence in the loop: simulating the two way dynamics of norm innovation { Final report of the EMIL
project. Technical report, Center for Policy Modelling - Manchester Metropolitan University, Manchester (2010).
 
[10] Coelho, H., da Rocha Costa, A.C.: On the intelligence of moral agency. In: 14th Portuguese Conference on Artificial
Intelligence - EPIA'2009/Social Simulation and Modelling - SSM 2009, University of Aveiro (2009). p439-450.
 
[11] da Rocha Costa, A.C., Dimuro, G.P.: On the interactional account of the social functions of agent societies. In:
Proceedings of the BWSS 2010 - 2nd Brazilian Workshop on Social Simulation, S~ao Bernando do Campo, SBC - Sociedade Brasileira de Computação (2010). p105-117.
 
[12] da Rocha Costa, A.C.: O nível cultural das sociedades de agentes. In: Anais do WESAAC 2011 - 5o. Workshop-Escola de Sistemas de Agentes, seus Ambientes e Aplicações, Universidade Técnica Federal do Paraná, UTFPR (2011). p.1-34.
 
[13] Easton, D.: A Framework for Political Analysis. Prentice-Hall, Englewood Cliffs (1965).
 
[14] Hill, M.: The Public Policy Process. Pearson Longman, London (2009). (5th ed.).
 
[15] Jones, C.O.: An Introduction to the Study of Public Policy. Brooks/Cole, Monterey (1984). 3rd ed.

Sobre:

O Centro de Ciências Computacionais da Universidade Federal do Rio Grande é uma das 13 Unidades Acadêmicas da FURG, sendo responsável pela área das Ciéncias Computacionais, dedicando-se a formação de recursos humanos e a produção de conhecimento.

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